Um pouco sobre software livre e o mundo dos hackers
A distorção de idéias e termos, através de artigos e matérias escritas por pessoas relativamente leigas, passa longe de cumprir o papel fundamental do jornalismo, que é o de levar informação às pessoas.
Os maiores prejudicados são o público, que busca informação, e os profissionais sérios que estão na outra ponta.
Começando pelo software livre, que não é uma idéia nova (sim, essa idéia é mais antiga que o Windows, e na verdade, mais antiga que a própria Microsoft). Além do que a idéia em si não se restringe a apenas um único sistema operacional, ou suas variantes, abrangendo todo um novo conceito de valores sociais e modelos de negócio, quanto mais de outros aplicativos e facilidades.
A impresa de massa não divulga este tipo de informação. Por que? Não sei ao certo. Talvez por duvidar da maturidade (capacidade de compreensão, absorção, análise, reflexão, conclusão) de seus leitores. Ou por não se importar com o trabalho sério de profissionais de uma área sobre a qual mantém pouco interesse. Ou mesmo pela imaturidade dos autores... como disse não sei.
Mas falando mais abertamente do software livre, algumas idéias que são vendidas, ou concluídas antecipadamente por falta de informação, e que me incomodam (eis porque escrevo), são a de que este tipo de software é desenvolvido por pessoas despreparadas ou com fins escusos. Não, absolutamente não.
Software livre não é desenvolvido por adolescentes pseudo-revolucionários socialistas, cheios de espinha, que passam o dia inteiro na frente do computador tentando invadir o computador de algum usuário, ou menina para roubar-lhe seus segredos. Software livre, tem sim seu lado comercial, e é desenvolvido por pessoas comprometidas com o que fazem, e são pagos para isso, ou para dar suporte e treinamento.
Abrir o código-fonte, tem implicações. Grandes empresas se escondem atrás dos diretitos autorais, copyright, propriedade intelectual, para vender um produto de forma não-transparente. Certo, a maioria dos consumidores realmente não tem a mínima necessidade de conhecê-lo, basta que o produto funcione. Mas abrir o código-fonte, é como convidar o cliente a conhecer a cozinha de um restaurante, ou ver um motor desmontado. É trabalhar com transparência.
Normalmente não me interesso em ver a cozinha de um restaurante, mas se o maître e o gerente me impedem de todas as formas possíveis de ver a cozinha, isso pra mim é, no mínimo, motivo de desconfiança. E para você?
Eis a segurança em se usar software livre: a transparência no negócio.
Outro ponto a ser observado é que software livre não é software pirata, nem plágio mal-feito. Quem faz tal afirmação nunca usou a suíte de escritório OpenOffice.org ou mesmo o navegador Mozilla Firefox. Se esse era seu ponto de vista, experimente os softwares citados e depois diga o que acha.
Agora de um ângulo mais técnico, o software livre apresenta-se como uma evolução no conceito de desenvolvimento. Através da possibilidade de acesso e modificação do código-fonte, grupos, empresas, especialistas e consultores, tem mais saídas do que becos. Sim, se alguém tem uma necessidade especial, pode-se adicionar/alterar a funcionalidade, sem a necessidade de adquirir outro software que o faça, ou pior adaptar o seu negócio segundo a restrição imposta pelo software de código fechado.
Pode não ser tão simples (e geralmente não é mesmo) alterar um software. Mas em muitos casos é mais viável contratar um programador/consultor/grupo que faça a alteração necessária. E como dito acima, às vezes essa é a única solução/oportunidade de não ficar restrito pelas limitações do programa, impactando diretamente os negócios.
Mas mesmo nesta situação, o software livre se apresenta como a melhor solução. Vamos supor que você estivesse usando um software e devido a alguma mudança estratégica nos processos da empresa, você necessitasse de que seu software tivesse duas ou três funcionalidades a mais, para uma total compatibilidade com seus novos processos.
Ou você teria que adquirir um novo software, provavelmente mais caro, devido às funcionalidades extra, ou em caso do software não existir você ficaria entre duas opções: contratar alguma empresa de programadores que criasse desde o zero o software para você (o que poderia ser muito custoso e demorado), ou não fazer nada e voltar à estratégia antiga, visto que nova ficaria impossibilidade de ser posta em ação.
No caso do código-fonte aberto, o trabalho de adaptação é muito mais rápido. Os programadores não partiriam do zero, não reinventariam a roda. Com menos trabalho, menos recursos, e menos dor de cabeça.
Agora mudando de assunto, vamos falar sobre os hackers. A mídia (ainda) usa erroneamente este termo para designar pessoas sem escrúpulo, que se valem de meio eletrônicos para conseguir acesso a informações sigilosas, ou os quais rompem códigos de validação para a pirataria. Não vou me estender sobre as várias terminologias e variações existentes. O termo mais apropriado para o tipo de usuário referenciado pela mídia seria cracker.
Os crackers são os responsáveis pela má fama dos hackers. Hackers de verdade não destroem, e sim constroem. Hackers são pessoas com amplos conhecimentos, inteligência acima da média, e que procuram problemas diversos para solucionar. Seja criando algo novo e útil, encontrando e corrigindo alguma falha (de funcionamento ou segurança), os hackers contribuem para você e eu dispormos de mais facilidades, comodidades, velocidade e segurança.
Essa discussão poderia ir muito mais longe, passando desde citações de textos e sites, princípios de filosofia, indo de Locke a Engels, e expondo pontos de vista como o de o cracker ser um agente do bem, tornando o acesso a pessoas de renda menor a programas aos quais nunca poderiam ter acesso normalmente, sendo assim, uma espécie de Robin Hood moderno - o que não é verdade.
Mas vou ficando por aqui. Talvez numa outra ocasião eu exponha mais a respeito deste assunto. Gostou? Comente. Não gostou? Comente também. Achou "lhufas"? Tá bom, diga sobre o que quer que eu escreva - através de um comentário.
Té+
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