sexta-feira, junho 01, 2007

Greve na USP - o outro lado da moeda

Muito se fala na mídia sobre a greve de alunos, professores e funcionários da USP. E que inclusive outras faculdades públicas no estado de São Paulo e até mesmo em outros estados brasileiros começaram as paralisações também.

A pedra fundamental da paralisação foi um decreto do Governador José Serra, do começo de janeiro deste ano. O decreto criou a Secretaria do Ensino Superior. A partir de então as universidades estaduais passariam a prestar contas ao Estado.

Mas segundo uma lei constituicional de mil-oitocentos-e-alguma-coisa, as universidades tem sua autonomia garantida. Autonomia financeira, patrimonial, de educação, pesquisa, .... ou seja, é a única instituição pública que não precisa dar satisfação do que fazem ou como gastam a verba para elas repassadas, pois entende-se que quem faz parte dela tem maturidade e responsabilidade suficiente para isso.

Mas e a lei federal de responsabilidade fiscal? Ora, ela funciona para outras instituições, mas não para as universidades. Isso é (foi) um prato cheio para golpistas. Da mesma forma que há bons funcionários e professores nas universidades, também lá existem picaretas. Sim, picaretas, que se valem dessa não-prestação de contas para simplesmente ganharem o seu sem ter se mexer muito.

Prestar contas, no meu entendimento, não tira a autonomia das universidades. Apenas garante que a verba seja melhor aplicada, e isso sim traria melhoria para todos realmente interessados na melhoria da universidade.

Os prejudicados com esse decreto não são os alunos, nem professores sérios, muito menos funcionários dedicados, e sim os sorvedouros de verba. O risco de descobrirem falcatruas aumenta consideravelmente, assim como o risco da fatia ficar menor, por ter que pagar mais pessoas para silenciarem e fazerem vista grossa.

Outra coisa que nunca se fala na imprensa: há duas greves todo ano na USP. O que acontece agora é inédito, pois houve a invasão da reitoria - e é claro, por causa do decreto do Serra, que motivou uma maior mobilização por ferir o "sagrado direito da autonomia".

Uma das greves é agendada para meados de maio, e outra para setembro. É sempre a mesma coisa que se reinvindica: aumento de salário, melhores condições de trabalho, mais isso, mais aquilo... e em duas ou três semanas, após conseguir um aumento (ainda que ínfimo), e mesmo se outras exigências não forem cumpridas, a greve cessa.

Cá entre nós, quais seriam as melhorias na condição de trabalho? Os funcionários das universidades públicas trabalham num oásis público. Não tem que dedicar atenção a pessoas com baixo nível de instrução, nem a idosos, nem a barraqueiros... nada... O árduo trabalho é o mais tranquilo, informatizado e automatizado quanto se pode ser na esfera pública, incluindo o direito de se usar em primeira mão novas tecnologias para organizar, agilizar e facilitar o trabalho.

Quero ver se algum deles topa ir trabalhar no INSS ou na Caixa Econômica Federal.

Mas o mais interessante é que a greve não é uma decisão dos próprios funcionários, e sim do sindicato - cujas lideranças sequer trabalham lá. A idéia é bem simples: aumentando o salário dos funcionários, aumenta a contribuição sindical, que por sua vez direciona mais verbas para o bolso de quem não trabalha - as lideranças sindicais.

Algumas unidades do campus Cidade Universitária são greveiras de carteirinha. E sempre reinvindicam muitas coisas, algumas bem legítimas - dou meu braço a torcer. Como a ampliação do CRUSP, e reformas nas unidades (sim tem prédios caindo aos pedaços). Mas é bem verdade que muitos motivos de agito não têm a menor coerência ou embasamento. Como a greve e as manifestações devido ao veto dado por Geraldo Alckmin, quando da aprovação por mais verba destinada à educação pelo Câmara Estadual de Deputados.

Pegando este exemplo, onde os deputados aprovaram por votação mais recursos para a Educação (coisa de 1 ou 2% do orçamento do Estado). Alckmin vetou simplesmente por isso não fazer parte do seu plano de governo. Sim, o picolé de chuchú tem colhões para manter sua palavra, coisa rara hoje em dia. Seu planejamento previa esta verba para o adiantamento para obras de infraestrutura do metrô. E foi isso o que ele fez: cumpriu com seu plano de governo. Mas este fato de hombridade não foi levado em conta, ou sequer era sabido pela maioria dos agitadores e manifestantes da USP.

Eu fico embasbacado com os alunos alienados demais. Passionais. Uma coisa é reinvindicar melhorias legítimas, com argumentos sólidos; uma outra, bem diferente, é apoiar um movimento sem a menor idéia do que acontece de verdade, sem analisar todos os lados de um ato ou decisão.

Dois amigos meus foram na reitoria ocupada. Quer saber o que tem lá dentro? Além de alunos, há muita maconha rolando, pó... Nada contra o pessoal que gosta de puxar um fuminho. Os universitários geralmente não roubam para comprar o "tablete de caldo Knorr", ou um "pino". Além disso, há algumas faixas como "Chuck Norris apóia a greve"...

Não bastasse essa "sólida" base de apoio, essa massa de manobra que ocupa a reitoria e enche as manifestações, as lideranças estudantis, os porta-vozes da classe universitária em toda a sua inteligência, são tão confusos quanto um novelo de lã, e dão mais voltas em círculo do que pião.

Há anos reinvindicam as mesmas coisas, sem no entanto conseguir sucesso, mostrando que são mais marionetes do sindicato do que uma classe que anda com as próprias pernas. E o pior e que qualquer agito, já lançam todas as armas... não tem foco. Qual foi o estopim da atual greve? Perda de autonomia da universidade? Por que raios então estão falando ao mesmo tempo de moradia, segurança, reformas e cotas?

Não há uma mobilização focada em um problema. Querem resolver todos. De uma paulada só. Como se construir um prédio fosse como pedir fast-food.

Sei que algumas unidades têm sérios problemas. Prédio velho, professor que falta na aula para ir dar aula em faculdade particular (onde ganha mais, e pela estabilidade do estado não perde sua teta), falta de segurança e infraestrutura... Mas tem que ter bom senso. A ocupação da reitoria foi uma babaquice sem precedentes. E a teimosia mais ainda. Tinha até sem-teto lá.

Sobre a falta de segurança, há um dilema. Hoje vivemos um momento muito diferente do que na época da ditadura. Põe muito diferente nisso. Quem não quer a polícia dentro do campus são os queimadores de erva. Por outro lado a guarda universitária é tão eficiente na segurança como pneus de madeira em carros esportivos. No caso de alguma emergência o que eles podem fazer é usar um apito e uma bicicleta. E como se permite que qualquer um entre no campus...

Acho que essa é uma das questões mais difíceis de se trabalhar. O que se pode fazer? Barrar todos e permitir que somente alunos, funcionários e professores entrem dentro do campus? Equipar efetivemente a morosa guarda universitária? Permitir que a polícia faça seu trabalho lá dentro?

É necessário pensar nessas questões antes de falar "Não queremos a polícia aqui dentro!", "Abaixo a repressão!". Que repressão? Quem foi preso, investigado ou torturado por subversão nos últimos 10 ou 15 anos lá dentro?

E sobre a ocupação da reitoria, ouvi sugestões um tanto quanto exóticas de alguns amigos. Como expulsar da universidade todos os manisfestantes que não desocuparem o prédio. É uma solução que não usar força bruta, e busca uma solução administrativa tão forte quanto balas de borracha para ferir o brio dos incautos.

Não sei que fim esta novela terá. Sei que a mídia e as lideranças mostrarão só o que dá IBOPE e o que falar. Mas ainda assim arrisco umas previsões:

- em setembro vai ter outra greve, que não passará na mídia, pois tratará apenas de aumento de salaŕio, melhores condições de trabalho...;

- muitas promessas e acordos serão feitos para manterem as coisas exatamente como são (aliás ontem o Serra já mandou uma correção, desobrigando a prestação de contas, logo essa greve termina...);

- o pessoal altamente preocupado com dezenas de questões para a melhoria da universidade ficarão chupando o dedo, e voltarão às aulas com o rabo entre as pernas até segunda ordem do sindicato, o que mostra mais uma vez sua solidez de mingau;

- as outras unidades, com mais porcos capitalistas-facistas-nazistas-istas-istas-istas, como a que eu estudo continuarão a ignorar a greve, e não sofrerão atrasos significativos em seus calendários

- não vou receber boas indicações por que escrevi isto. O melhor que pode me acontecer é ninguém falar nada.

Té+

3 comentários:

Unknown disse...

oi! meu nome é anahi,
achei muito bom seu comentário sobre a greve!
eu faço cursinho, e tambem acho essa greve meio ridicula .. mas não consigo ter muitos argumentos já que eu não estou lá pra ver como é.. a única noção q tenho das coisas é oq sai no jornal.
foi legal ler seu texto e ver outros argumentos legais pra eu discutir com as pessoas!
bom, sou colunista de um site sobre vestibular e escrevi esses dias uma coluna sobre a greve... se quiser dar uma olhada.. www.sejabixo.com.br/toralando
valeu.. beijos!

Anônimo disse...

puxa, vc tinha q ser da poli, leia menos artigos de tecnologia e comece a se interessar um pouco por teoria politica e sociologia então a coisas ñ parecerão tao simples assim!

Anônimo disse...

puxa, vc tinha q ser da poli, leia menos artigos de tecnologia e comece a se interessar um pouco por teoria politica e sociologia então a coisas ñ parecerão tao simples assim!